sábado, 8 de outubro de 2011

Entrevista com Evandro, coordenador do bar Iraq.


Iraq, espaço alternativo para bandas

Espaço alternativo no Recife, o Iraq já foi palco para muitas bandas que não encontravam abertura em locais comerciais. De todos os estilos, aos longos desses cinco anos já passaram por lá bandas de hard core, rock n roll, noise, entre outros. O comum entre todas elas é o fator autoral e a vontade de tocar. O bar acabou se tornando um ponto de encontro para uma grande variedade de bandas da cidade.
Há cinco anos, o estudante Vinícius Borges fez apresentações no local com sua banda de hard core, risko HC. “Era um espaço que todo mundo se sentia muito à vontade. Todo mundo que tinha banda gostava bastante de tocar lá”, comentou o estudante. O fluxo era muito grande e lá também tocaram bandas como Nark, Corroídos pelo ódio e Nômades. Mas Vinicius não ia apenas para tocar. “Já fui para um show da banda paralela dos integrantes do Dead Fish no Iraq, foi muito bom!”, lembra.
Mas o ambiente não agrade completamente a todos que passam por lá. “Eu costumava ir mais, acho o ambiente de lá um pouco desconfortável, mas é uma alternativa de bar onde rola música boa”, comentou a vocalista da banda Dunas do Barato, Natália Meira Lins. O local parece ser ideal para bandas iniciantes tocarem, mas para quem já está com certo tempo na caminhada musical pode não siguinificar um grande avanço. “Já foi mais aproveitado para dar lugar a bandas e artistas independentes daqui do Recife, mas hoje em dia vejo mais parado, talvez porque o lugar não seja ideal em relação à acústica e ao som”, indagou a vocalista.
Muitas bandas até se agradam do local ao vê-lo em fotos ou ouvir comentários, mas ao conhecer pessoalmente percebem que o ambiente é muito informal. “Devo ter ido ao Iraq umas três vezes com apresentações. Pelas fotos parece um lugar mais sombrio e calorento, e é, na verdade, mas existe uma parte externa onde dá pra ficar mais tranqüilo e é até arborizada, mas os shows acontecem dentro do mini hall de entrada muito pequeno mesmo”, explicou o baixista de uma banda chamada Candeias Rock City.
A maioria das pessoas que iniciam uma carreira artística sabe perfeitamente onde estão pisando, sabem das dificuldades financeiras que podem enfrentar, mas ainda assim não desistem e esperam por dias melhores. Quando penso num espaço para bandas alternativas, penso no que é lucrativo para elas, seja financeiramente ou em formação de público. Lá não é um lugar que realmente vá formar um público, muito menos pra ganhar dinheiro”, ressaltou o artista.

                                                                                                                                 Vivanne Melo


A casa de quintal autoral




              Na fachada pode-se ler “IHKE”. Casa simples, você precisa pedir para entrar. Dentro, luzes de efeitos diversos causam estranhamento na vista enquanto você segue para um quintal. Paredes pintadas, colagens, uma decoração “artística”. Essa é a descrição do Iraq, o bar que nunca pretendeu ter este nome. Casa comunitária de artistas, o Iraq nunca pretendeu ser um bar.
“IHKE” significa Instituto Henrique Koblitz Essinger, um dos ex-moradores, tal como Olga Torres, Evandro Sena, Diogo Todé, Moa Lago e Greg. Atriz, músico, agitador cultural e artistas plásticos respectivamente, nenhum deles mora mais lá. “Já houve o tempo que em que se podia ler na fachada da casa “IRAQ”. Foi uma instalação de Todé com resto de letreiro do (Cinema) São Luiz achada no lixo. Acabou se popularizando e o nome pegou. Tirei quando começou a se popularizar demais, não queria isso” revelou Evandro que hoje é administrador do local.
            Há cinco anos atrás, quando tudo começou, nenhum deles diria que a casa se tornaria o que está se tornando hoje, cada vez mais um estabelecimento comercial – e ilegal. Quando ainda servia de moradia, o espaço era aberto para divulgação da arte dos moradores, ou de amigos destes. “Fazia-se festas para arrecadar dinheiro, mas as relações que ali aconteciam não tinham nada a ver com a de dono e cliente” lembra o administrador. Agora, esta relação é o que mais incomoda na sua ideologia e lhe faz pensar em fechar a casa para o público permanentemente.
            Apesar de tanta história, o Iraq dá sinais de que já passou pelo seu auge. Não existe mais a energia artística pairando sobre o ar do local. Talvez em algum momento um bêbado apareça para recitar poemas na sua mesa. Mas num geral, os mais recentes freqüentadores já entram ali sem saber a sua história e saem do mesmo jeito. Talvez, devido às outras casas alternativas e comerciais na cidade, o estilo esteja banalizado e seja difícil a manutenção do estado original.
             O fechamento da casa para uns seria uma grande perda, para outros algo completamente indiferente. Um ambiente que surgiu de tal forma e tão alternativo jamais poderia ser uma unanimidade, mas o espaço que ele deu abertura poucos lugares na cidade têm como proporcionar. Singular, autoral  - pela própria história dos artistas que ali moraram -, ideológico, o Iraq teve sim seu papel marcado na cena alternativa recifense.



texto e fotos: Maria Cardoso