sábado, 8 de outubro de 2011

A casa de quintal autoral




              Na fachada pode-se ler “IHKE”. Casa simples, você precisa pedir para entrar. Dentro, luzes de efeitos diversos causam estranhamento na vista enquanto você segue para um quintal. Paredes pintadas, colagens, uma decoração “artística”. Essa é a descrição do Iraq, o bar que nunca pretendeu ter este nome. Casa comunitária de artistas, o Iraq nunca pretendeu ser um bar.
“IHKE” significa Instituto Henrique Koblitz Essinger, um dos ex-moradores, tal como Olga Torres, Evandro Sena, Diogo Todé, Moa Lago e Greg. Atriz, músico, agitador cultural e artistas plásticos respectivamente, nenhum deles mora mais lá. “Já houve o tempo que em que se podia ler na fachada da casa “IRAQ”. Foi uma instalação de Todé com resto de letreiro do (Cinema) São Luiz achada no lixo. Acabou se popularizando e o nome pegou. Tirei quando começou a se popularizar demais, não queria isso” revelou Evandro que hoje é administrador do local.
            Há cinco anos atrás, quando tudo começou, nenhum deles diria que a casa se tornaria o que está se tornando hoje, cada vez mais um estabelecimento comercial – e ilegal. Quando ainda servia de moradia, o espaço era aberto para divulgação da arte dos moradores, ou de amigos destes. “Fazia-se festas para arrecadar dinheiro, mas as relações que ali aconteciam não tinham nada a ver com a de dono e cliente” lembra o administrador. Agora, esta relação é o que mais incomoda na sua ideologia e lhe faz pensar em fechar a casa para o público permanentemente.
            Apesar de tanta história, o Iraq dá sinais de que já passou pelo seu auge. Não existe mais a energia artística pairando sobre o ar do local. Talvez em algum momento um bêbado apareça para recitar poemas na sua mesa. Mas num geral, os mais recentes freqüentadores já entram ali sem saber a sua história e saem do mesmo jeito. Talvez, devido às outras casas alternativas e comerciais na cidade, o estilo esteja banalizado e seja difícil a manutenção do estado original.
             O fechamento da casa para uns seria uma grande perda, para outros algo completamente indiferente. Um ambiente que surgiu de tal forma e tão alternativo jamais poderia ser uma unanimidade, mas o espaço que ele deu abertura poucos lugares na cidade têm como proporcionar. Singular, autoral  - pela própria história dos artistas que ali moraram -, ideológico, o Iraq teve sim seu papel marcado na cena alternativa recifense.



texto e fotos: Maria Cardoso





          
             

Nenhum comentário:

Postar um comentário