Suspense e drama são o que vai encontrar em Intrigas de Estado. O protagonista é Cal McAffrey (Russell Crowe), um jornalista que trabalha há anos no impresso The Washington Globe. No começo do filme, a grande notícia é a morte de Sonia Baker, uma assistente de um congressista americano. Este é amigo de faculdade de Cal e chama-se Stephen Collins, interpretado por Ben Affleck. Juntamente com Della Frye (Rachel McAdams), que trabalha para a parte online do veículo, Cal vai investigar mais a fundo essa história.
Vários dilemas do jornalismo são apresentados no filme. O primeiro, e constante durante todo o longa, é o fato de Cal ser amigo de Stephen. É um problema ético, pois o jornalista já possui um envolvimento com a fonte e poderia tentar favorecer o político. O melhor talvez fosse se a história tivesse uma investigada por outro repórter. Decorrente do mesmo problema está a separação amigo/profissional. Stephen tem dificuldades em saber quando está falando com seu colega de faculdade ou com um jornalista, assim como Cal às vezes não sabe qual dos dois é no momento.
O conflito impresso/online também é visto aqui. Cal parece o típico profissional de jornal do imaginário do cinema: mais velho, com o mesmo computador há 16 anos, investigador. Já sua colega Della é jovem, inexperiente e mais conformada com a preocupação dos donos do veículo em vender. Os dois têm algumas discussões. Em um dado momento, Cal diz que são os jornais que fazem as matérias investigativas. A chefe do Washington Globe, Cameron Lynne (Helen Mirren), está sempre recebendo reclamações dos donos, que querem mais resultados nas vendas. Ela faz uma ponte entre a redação e o topo da hierarquia da empresa, tentando conciliar interesses. Surge aí um fator que o jornalismo atual vive: os conglomerados de mídia. O Washington Globe pertence a uma grande corporação, cujo interesse parece pender mais para os lucros do que para a relevância e conteúdo das matérias. Como fazer jornalismo dentro de um conglomerado?
A parte especulativa da grande mídia também foi abordada. Logo após a notícia de que Sonia Baker havia morrido, já se falava em um caso amoroso dela com Collins e na morte ser suicídio, tudo com pitadas de sensacionalismo. Na verdade, pouco havia de concreto sobre o caso e a impressão era de que a mídia estava mais interessada em criar polêmica do que em investigar melhor o assunto. Uma das grandes questões do filme também é o lado investigativo. Qual é o limite? Até onde o jornalista pode ir? Como delimitar a área do jornalismo e da polícia? Até quando segurar uma matéria que ainda não foi totalmente investigada, mesmo sofrendo pressão dos donos do jornal? E o risco de levar furo da concorrência? Como saber se chegou o final da investigação e não existe mais nada a ser descoberto? Isso tudo é discutido entre Della, Cameron e Cal constantemente.
É interessante assistir a um filme sobre jornalismo investigativo com tantas discussões pertinentes nos dias atuais. No entanto, por ser obra ficcional, concessões devem ser feitas para a atuação de alguns personagens em situações que provavelmente não ocorreriam na vida real. É um suspense divertido e emocionante, daqueles em que se espera ansiosamente o desenrolar das cenas. As performances são excelentes, o elenco é de primeira linha. O diretor Kevin Macdonald é o mesmo de O Último Rei da Escócia e um dos roteiristas, Tony Gilroy, é o mesmo de Conduta de Risco, que concorreu ao Oscar em 2007, e da trilogia de filmes de ação Bourne.
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